Nesta realidade com múltiplas crises que vivemos - ambientais, econômicas, sociais e tecnológicas - o Fórum Econômico Mundial (WEF) lançou o relatório "Fé em Ação: Religião e Espiritualidade na Policrise" (link nos comentários), com uma abordagem revolucionária sobre como a fé e espiritualidade podem ajudar nos desafios interconectados de hoje.
Neste artigo, apresentamos os principais pontos do relatório, ressaltando como a fé, muitas vezes subestimada por líderes globais, desempenha um papel crucial na solução de crises globais, independente de crenças individuais.
Policrise é um termo utilizado para descrever um cenário onde múltiplas crises ocorrem simultaneamente ou se entrelaçam, impactando de forma profunda e complexa a sociedade e o mundo como um todo.
Com 85% da população mundial possuindo uma tradição religiosa ou espiritual, a religião e a espiritualidade influenciam significativamente como as pessoas definem seus valores e ações em suas comunidades, locais de trabalho e sociedades. Na América Latina, por exemplo, o crescimento do cristianismo evangélico reflete mudanças sociais e culturais profundas. Nos EUA, a presença massiva de congregações religiosas e organizações baseadas na fé destaca seu papel na sociedade civil. Esse panorama global sugere uma ligação intrínseca entre fé, identidade cultural e ações sociais.
No local de trabalho, a identidade religiosa das pessoas tem sido excluída do movimento de diversidade, equidade e inclusão. Contudo, a liberdade religiosa no ambiente das organizações contribui para uma força de trabalho diversa, inclusiva e engajada, melhorando a retenção de talentos, a satisfação dos empregados, o relacionamento com clientes e a inovação nos negócios.
Também para discernir o certo do errado, a religião e a espiritualidade podem inspirar o entendimento da cidadania corporativa e da liderança empresarial em crises, promovendo valores que transcendem as divisões atuais.
Diversas religiões convergem ainda na ênfase do cuidado com os oprimidos, na defesa da vida humana e na promoção do acesso à saúde. Este fio comum abrange ensinamentos que defendem o autocuidado e acesso equitativo à saúde para melhorar o bem-estar geral da sociedade.
Neste contexto, o documento sugere a colaboração entre fé e negócios como uma ferramenta poderosa para soluções para as crises complexas e desafios enfrentados pelas famílias, nações e o mundo.
"Fé em Ação" apresenta oito estudos de caso de parcerias baseadas na fé em áreas críticas como meio ambiente, saúde, resiliência e governança tecnológica. Estas colaborações demonstram como líderes empresariais e religiosos podem trabalhar juntos, para alcançar resultados significativos e positivos.
Estes exemplos de parceria mostram instituições religiosas utilizando seus ativos para enfrentar desafios à prosperidade e ao florescimento humano. Investidores baseados na fé foram pioneiros em questões de investimento ambiental, social e de governança (ESG), e investimento socialmente responsável. Campanhas como da UNIAPAC e o Centro Inter-religioso sobre Responsabilidade Corporativa (ICCR), têm desenvolvido estratégias de transformação da indústria e agido para desafiar questões através de resoluções de acionistas.
Governança da Tecnologia: Perspectivas e Colaborações Empresariais
A seção sobre governança tecnológica é também relevante, destacando como os valores éticos e a responsabilidade social podem orientar práticas mais seguras e responsáveis no ciberespaço. Novas tecnologias oferecem benefícios mas também potencial de dano a indivíduos e comunidades. Os problemas variam desde a amplificação do discurso de ódio e extremismo até preocupações éticas em torno da inteligência artificial (IA).
Sugere também uma abordagem mais holística para a cibersegurança, integrando princípios éticos e espirituais nas estratégias de segurança digital.
Empresas e grupos religiosos estão colaborando para a necessidade de regulação mais eficaz, fornecendo princípios orientadores para navegar na complexa interação entre sociedade e tecnologia, esforçando-se também para mitigar possíveis danos.
O relatório também aborda a erosão da coesão social e a polarização como características da crise global, afetando todos os países. Questões como imigração, gênero, direitos reprodutivos, etnia, religião, clima têm marcado eleições, referendos e protestos ao redor do mundo. O documento sugere colaborações entre atores religiosos e empresariais, para ajudar no engajamento e respeito às diferenças, incentivando diálogos inclusivos, com alinhamento de metas compartilhadas e parcerias baseadas em valores comuns.
Este relatório "Faith in Action" do WEF não é apenas um documento informativo, mas um chamado à reflexão e ação para líderes e organizações em todo o mundo, incentivando uma maior integração da fé e espiritualidade nas estratégias empresariais e de governança, independentemente de filiações religiosas.
Neste sentido, encorajo colegas e toda a sociedade para explorarmos como aplicar estas ideias e orientações em nosso ambiente de trabalho e comunidades. A interação entre religião, espiritualidade e desafios sociais globais é um campo rico para soluções inovadoras, sendo que a fé para líderes globais é mais do que apenas crenças individuais, mas uma força que influencia a mudança e construção de um futuro mais justo, sustentável e inclusivo.
Abraços e até a próxima!