Cybersecurity e Boas Práticas

Como quantificar os riscos com a matemática do Open FAIR™


Modelos matemáticos estão presentes em várias áreas da vida, ajudando a torná-las mais seguras, eficientes e precisas. Através da análise estatística e da teoria da probabilidade, é possível desenvolver modelos para gestão de riscos, por exemplo, para estimar a probabilidade de um evento de segurança cibernética e seus possíveis impactos financeiros.


Nesse contexto, por meio de uma abordagem quantitativa e estruturada, a metodologia doOpen FAIR(Factor Analysis of Information Risk) tem se destacado como um padrão cada vez mais utilizado para quantificar e gerenciar os riscos em termos financeiros.



Quando comecei a estudar o FAIR, me transportei de volta para as aulas de Estatística do curso de Informática da UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentando o complexo domínio da matemática, com suas fórmulas, técnicas e conceitos.


Padronizada pelo OpenGroup, o Open FAIR™ oferece uma abordagem sistemática para gerenciar riscos, de forma quantitativa, documentada em seus dois principais documentos: Análise de Riscos (O-RA™) e Taxonomia de Riscos (O-RT™), com versões disponíveis em português.


Este artigo se baseia no documento publicado peloOpenGroupem setembro de 2022 (The Mathematics of the Open FAIR™ Methodology), que apresenta uma visão geral de conceitos e técnicas matemáticas, que podem ser usadas para criar modelos para o FAIR.



O documento explica como modelos de probabilidade e estatística podem ser aplicados no Open FAIR™, com ideias e técnicas para quantificar o risco de forma mais precisa e acurada. Enfatiza que é necessário apenas um conjunto reduzido de técnicas para modelagem dos diferentes cenários de risco, premissas para a estimativa de eventos futuros e interpretação dos resultados.


Embora haja flexibilidade no uso dos parâmetros do FAIR,existem também certas regras probabilísticas simples que precisam ser respeitadas, evitando erros comuns e explica como corrigi-los.


Como boa prática, deve-se também manter os modelos o mais simples possível. Quanto mais simples o modelo, menos parâmetros e suposições, menos propensão a erros, mais fácil avaliar se os resultados são confiáveis e atualizar seus valores conforme mudanças nas circunstâncias.


Exemplos de modelos simples em segurança cibernética incluem a avaliação de riscos de ransomware, ataques cibernéticos ou vazamento de dados, considerando apenas algumas variáveis-chave, como a lista de ativos mais relevantes, as principais ameaças e agentes de ameaça, e as perdas mais significativas em termos de impacto financeiro.


Alguns conceitos e exemplos de técnicas apresentados são:


  1. Aleatoriedade e incerteza:A aleatoriedade se refere à natureza imprevisível de um sistema, exemplificada por jogos de azar como dados, cartas e roleta, enquanto incerteza é resultado da falta de conhecimento sobre o sistema. Costumam ser quantificadas usando técnicas estatísticas como intervalos de confiança ou credibilidade.
  2. Processo binomial:Processo que tem apenas dois resultados possíveis e segue uma distribuição binomial. Se a chance de sucesso não é afetada pelos resultados anteriores, dizemos que o processo é sem memória. É útil para modelar a frequência de eventos e o sucesso ou falha de diferentes controles de segurança.
  3. Processo de Poisson:Utilizado em problemas de risco onde não há tentativas discretas que podem se tornar sucessos, mas sim umcontinuumde eventos que podem ocorrer. É caracterizado por dois parâmetros, o tempo em que os eventos podem ocorrer e o número médio de eventos que devem ocorrer por unidade de tempo (normalmente anual).
  4. Variáveis independentes e identicamente distribuídas (IID): Números aleatórios que são muito parecidos entre si. Quando temos muitos números, a distribuição deles se torna mais previsível. Podemos calcular algumas coisas sobre esses números, como a média e variância, além de comparar a sua distribuição usando coeficiente de variação.
  5. Três Pontos:Técnica usada quando temos poucos dados para fazer uma estimativa estatística. Essas estimativas possuem um valor mínimo, provável e máximo e podem ser representadas por três distribuições mais comuns e fáceis de usar: a distribuição triangular, a distribuiçãoPERTe a distribuiçãoPERTmodificada.
  6. Distribuições paramétricas:OLogNormalé usado quando muitas coisas diferentes podem dar errado ao mesmo tempo, enquanto oGPD(Generalized Pareto Distribution) é melhor para lidar com grandes perdas.
  7. Simulação de Monte Carlo:Quando ocorrem vários eventos em um período de tempo e há uma distribuição de probabilidade para cada evento, pode ser usada para gerar aleatoriamente uma amostra das possíveis ocorrências e calcular o valor total.


Uma visualização comum dos parâmetros do Open FAIR™ mostra o risco no topo de uma pirâmide, com os fatores do cálculo da Frequência à esquerda, e os da Magnitude à direita. Esta visualização também pode ser lida da esquerda para a direita, em uma sequência temporal, como mostrado na figura:




Frequência: Existem diversas técnicas que podem ser usadas para se calcular a Frequência, dependendo do cenário, como por exemplo distribuições de Bernoulli, Binomial ou Poisson.


Magnitude: Para modelar a Magnitude,o FAIR considera seis formas de perdas primárias ou secundárias: produtividade, resposta, substituição, multas e julgamentos, vantagem competitiva e reputação. Cada perda pode ser descrita por um valor fixo ou uma combinação de distribuições de probabilidade e a perda total pode ser calculada utilizando-se Simulação de Monte Carlo.


Para calcular o valor dos controles e ações de tratamento dos riscos, pode-se partir da redução da perda esperada ao longo de um período, menos os custos de implementação e manutenção. Esta diferença é o benefício monetário dos controles, e oRetorno sobre o Investimento(ROI) é calculado dividindo este benefício pelos custos dos controles.


É importante considerar que toda estimativa é uma previsão incerta, por isso, razoável usar Simulação de Monte Carlo para estimar os valores e ter alguma margem de erro na avaliação.


Para construir um modelo FAIR, existem muitas técnicas que podem ser usadas para estimar seus parâmetros, mas a melhor prática é buscar o máximo de dados possível para basear as estimativas. Dados históricos ou semelhantes podem ser usados, considerando-se a sua qualidade, para garantir que sejam confiáveis e medidos adequadamente. Além disso, dados de terceiros, podem precisar de redimensionamento para refletir a realidade de cada negócio.

No final das contas, qualquer método de estimativa é um modelo que tem suposições associadas, que devem ser documentadas e, se possível, testadas.


Abraços e até a próxima,


Alberto Bastos


Para conhecer a soluçãoQuantRisk™ daModulopara Gestão Quantitativa de Riscos utilizando o Open FAIR™



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